quarta-feira, janeiro 12, 2005

Queimar neuronios

Perde-se tanto tempo na procura de formas bonitas de se viver os momentos, que acabamos por matar o próprio, de tão perfeito e calculado que ele foi. Pedra em bruto, o grotesco da coisa pode ser tão belo. Dá-me a tinta que eu atiro para a tela mesmo sem olhar e vai sair de lá um desenho, que por mais estranho que seja, vai ser o meu desenho, a minha pintura, a minha tela. O improviso é romântico, faz mexer qualquer coisa cá dentro, a corda bamba, esse formigueiro na barriga, sem rede é que é bom. Não penso para andar, só ponho um pé em frente do outro e chego sempre a algum sitio. Não me lembro de ter que não me esquecer de respirar, só quando alguém sufoca é que se lembra que precisa de ar. Pensar não dá de comer aos bichos, e mata a minha mente.

1 comentário:

Inês Ramos disse...

Vive o dia a dia aproveitando o dia ao máximo enriquecendo-te a cada dia que passa. Com essa riqueza saberás quando deves ser mais romântico ou mais calculista... Falo por mim, que estou aqui a dar conselhos mas não consigo estabilizar emocionalmente.
Sempre que me deixo levar no romantismo do momento (muitas das vezes potenciado pelo consumo bidireccional de substâncias psicotrópicas) acabo magoada e em sofrimento perpétuo como me encontro neste momento...
Com um gosto àcido e venenoso nos lábios, o coração destroçado e pisado já para não falar numa enorme sensação de vazio e de perda... Perda de quê? Do afecto que julgava ter nutrido daquela relação interpessoal... Mas isto sou eu... Uma romantica incurável que até ver comédias chora copiosamente quando se avizinha algures no argumento alguma centelha de romance entre o herói e outra personagem.
Cada dia que passa sinto maior intensidade nessa perda e para me proteger sempre que sei que estou em vias de me deixar levar nesse improviso de que falas, que cria um turbilhão no peito como se fosse uma data de morcegos numa caverna negra que ao minimo sussurro doce desatam a voar para o seu esterior recortando guarda-chuvinhas no azul-violeta do céu... Antes de me sufocar nesse extâse embriagante e mergulhar no abismo de absinto sem salva-vidas... Revejo o meu coração remendado e cheio de costuras com pespontos soltos e feridas que não fecham e então PENSO no que é melhor para mim?

Tenho atracção pelo abismo, pelos canalhas, pelos bandidos, pelos boémios, pelos mal-amados, pelos que sem saberem têm sede ternura, pelos que lutam perante as iniquídades da vida com um sorriso nos lábios sempre alegres e bem-dispostos mas que no fundo eu sei que já sofreram... E sofreram tanto que desistiram de acreditar... Porém, eu QUERO acreditar. Talvez por isso eu sofra mais. Talvez o facto de ser um ser cerebral me prejudique mas como disse o Eduardo Madeira «Mas por amor, serei capaz de tudo. Até deixar de amar.»